Pye, Bek, Chân, Pé

quarta-feira, 31 de março de 2010

Círculos. Pés descalços. Amarelos. Pretos. Mãos dispersas. Abertas. Fechadas. Iguais. Diferentes.

Basta olhar com mais atenção, e o todo que se vê dará espaço aos detalhes. O que é de tudo igual limita-se à indiferença, mas se o olhar for pequeno, tão grande quanto uma lente de aumento, o espírito, instantaneamente, se prenderá no que for particular.

Quando olho à minha volta, percebo um mundo grande, algo que eu jamais alcançarei com meus pequenos dedos dos pés. A dor é grande por isso. É como o olhar de uma formiga, quando a mesma se depara com o peso do céu, se aproximando de sua cabeça. Esmagador, acredite. E, brincando de ser Deus, me enxergo naquele pequeno indivíduo que perece, debaixo da minha indiferença. Olho, retiro o fardo, me aproximo, ofereço minha misericórdia. Mantenho-no vivo. Meus olhos se encontram nos dele e percebo que não sou eu quem tem de caber. Prefiro entender que a grandiosidade está em cada espaço de vida, ainda que esse espaço não respire, pois a morte é a maior parte do que é vital. Cada um e cada coisa desse um merecem ser o mundo. É importante que as diferenças sejam tratadas com igualdade. Porque o mundo é quem deve caber em nós, em cada canto do próximo. Os pequenos gestos, a forma de andar diferente, os pés amarelos descalços, a pele negra e quente, os olhos rasgados, os cabelos lisos ou crespos, a barriga aos berros de fome, as folhas secas por falta d’água, o corpo nu por indiferença ou desejo, os braços cruzados, aqueles que nadam aqueles que voam aqueles que andam, aqueles que andam, nadam e voam e aqueles que se diferenciam pelo tamanho. Prefiro a compaixão que a diferença concede, não a diferença de raça ou espécie, afinal, elas só existem por convenção; acredite: cada ser tem um órgão vital, um tecido, célula, raízes e corpo; falo da diferença de espírito, é preciso que cada um escolha seus passos dados, seu meio caminho andado. Os pés a serem encostados, o círculo pequeno, formado por quem é grande. Ser forte é deixar com que o outro também seja. E eu deixo, me identifico com as pedras.

Preste atenção, cidadão: quer mais alguma coisa para se achar dentro do seu próprio mundo?


Por: Julya Tavares - depois de um inverno tenebroso.

A esta hora da madrugada...

domingo, 14 de março de 2010
E ainda insisto em sonhar-te nos turvos e estranhos sonhos...
E neles insisto em tomar-te os braços e guardar-te ainda mais do que posso...
E nesta insanidade insisto em pensar que meu ser não mais o é sem o teu e torno a enlaçar-te;
Na ânsia de tornar-me, como se fosse mais possível, mais tua do que meramente minha.
E de tanto precisar-te o corpo para completar-me, perco-me de meus próprios braços soltos e presos a ti.
E nestes sonhos nos quais a falta é a presença tua que a mim mais marca...
Perco-me e acho-te tão mais perto do que a minha própria presença constante...
Que chego a cogitar que sempre fui-te e nunca fui-me nesta inconstância palpitante.
E ainda insisto em sonhar-te nos turvos e estranhos sonhos...

Por: Ana Carolina de Assis