sexta-feira, 21 de agosto de 2009
Eu me lembro do teu sorriso ao se deparar com o meu de manhã. Era a melhor vitamina do mundo e, mesmo que alguém tente, nunca haverá outra igual. Lembro-me de sua gargalhada ao me ouvir dizer que queria ser da sua cor, e quando pulou na piscina desesperado pra me salvar... 'Eu queria ficar aqui com você, pai.' Lembra-se disso?
Sabe, pai. Eu era sempre a personagem principal das peças da escola, e sempre tive algo bonitinho pra te dizer, mas nunca me ouviu e, se ouviu, por que não me lembro? Por que não estava aqui quando precisei de alguém pra me salvar do jacaré embaixo da cama? Perdoe-me por não me lembrar do seu colo e demorar a reconhecer tua voz ao telefone. Eu tento.
Aos cinco anos eu já lia, e tinha um caderninho de caligrafia, lembra pai? Eu gostava tanto de escrever seu nome... Me ajuda a lembrar, porque eu me esqueci de você me dando parabéns por aqueles garranchos mal escritos. Queria ter aprendido contigo a gostar dos livros que me deu, a soltar a cafifa que tantas vezes cortei a mão no cerol, e a cantar aquela música em inglês que você tanto gosta...
Me perdoe por somente entender as letras e não saber mais que soma e subtração da matemática que você tanto se encanta. Eu queria e tentei por diversas vezes entender os comprimentos de onda, pra fazer a engenharia naval que você tanto queria, mas... eu não sou capaz, pai. Me perdoe por não ser suficiente na sua vida e deixar te levarem de mim por tanto tempo. Desculpa por ter dúvidas a respeito de quem entrará na igreja comigo no dia do meu casamento, e quem eu vou chamar pra homenagear na minha formatura pela universidade federal que você tanto se orgulha...
Pai, eu tô te esperando pra me ensinar a fazer feijão e ler 'Grandes Sertões - Veredas'. Tô te esperando na reunião de pais na escola, ainda dá tempo. Os meus amigos querem te conhecer, eu já fui apresentada ao pai de todos eles...
Pai, eu tô te esperando pra mostrar esse texto, vê se não vai embora antes de lê-lo.
Eu te amo.

Sabe aquele furacão que você conhece? Pois então, é mais uma das minhas fantasias, mais uma das minhas máscaras. Não gosto de mostrar quem sou, pois a fragilidade é o meu pior defeito.

Por: JT.

Mudo

Vento, areia e você, recostado em minhas pernas...
E seus cabelos entrelaçados em meus dedos, uma simples carícia que pintava um lindo e simples sorriso nos seus lábios.
Um minuto em silêncio, uma hora e só o mar movido ao vento dizia que aquela felicidade era única e incomensurável.
De repente um som, a sua voz que dizia "Eu acho, eu acho..."
Senti aquele calafrio de expectativa e medo do desconhecido...
- "Eu acho que te amo" - E me olhou com aquele brilho de esperança, como se a vida dependesse daquele instante. Disse-me: "Promete que vai me amar?"
Quase chorei, nem sabia como dizer aquilo, nem conseguia articular uma frase. Falei aquilo do qual meu coração estava cheio: dúvidas. Respondi: "Talvez" e sorri.
Você sorriu, porque me entendia e sabia que as minhas dúvidas não seriam maiores que aquele sentimento.
Nos abraçamos e ficamos ali parados, por horas...
Porque em certos momentos, na verdade, em todos eles, quando trata-se de amor, o mais importante é o dito, é a compreensão do ser, da união sem palavras.

Mudo é o amor e mudo com ele, tento ser para ti aquilo que te fará feliz.

Por: Ana Carolina de Assis

Quarta feira, 19 de agosto de 2009

quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Under Pressure.

Sim, é o nome de uma música do Queen. A minha preferida, aliás, mas a letra dela nada tem a ver com o que tenho a dizer: Eu estou exausta. Minha coluna parece que tem cem anos, minhas pernas não respondem aos meus comandos e o meu cérebro... coitado, nunca produziu tanto de uma só vez! É muita informação, e tô começando a achar que não vou dar conta. Estou assim desde o final do segundo bimestre escolar; achei que fosse passar depois das férias, mas "o sabotador" não me deixa em paz. Hoje, acordei feliz - sou assim desde criança - fui pra escola e me deparei com o paradoxo em pessoa, alguém que foi capaz de me fazer chorar com uma nota péssima de simulado e prova, e acordar o Peter Pan aqui que insiste em não crescer. A desconstrução é hiper dolorosa - eu nunca sofri tanto! - e é preciso dar prioridade a uma coisa de cada vez. Descobri que não sou a preferida de todos, muito menos a melhor em tudo, e isso é desconcertante. Passei o dia a pensar nas minhas possibilidades e principalmente impossibilidades, as frustrações são tantas que mal consigo contar. Ter que voltar ao ponto de partida é cansativo demais para quem está próximo à linha de chegada, e eu precisei fazer isso hoje cedo. Ela tirou um peso de mim, e eu tirei todos que pareciam me sufocar: todos os aneis, brincos, pulseiras, correntes, prendedores de cabelo, fitinhas e um barbante marrom que nem sei de onde saiu. Deve ser bobagem, mas fez um efeito brilhante! Não falei ao telefone, nada de MSN nem orkut; estudei e senti como se fosse a primeira vez que me encantava pelas letras e suas vírgulas. Passei a tarde em frenesi, havia tempos que não sentia isso. Estava com saudade disso aqui, mas nada se compara a falta que fazem os meus amores. Comprei um livro, e tô desesperada para lê-lo. Não vai tardar, e ele estará terminado, arrumarei mais um para a coleção de amores literários. Eu sei que esse espaço não é uma agenda, muito menos um diário, mas eu precisava dividir esse outro lado da Julya com alguém. Enfim, game over.

Ah, esqueci de dizer: 'Under Pressure' quer dizer 'sob pressão'. Pois então: Vestibular, aí vou eu! |Eu gosto mesmo é de mergulhar de cabeça.|


Por: Julya Tavares

Promessas de Papel

quarta-feira, 5 de agosto de 2009
No terceiro dia ressuscitei. Meus olhos se mexeram com uma dificuldade de dar dó, e a primeira coisa que vi foi a escuridão do meu quarto. Na verdade não estava tão escuro, acho que eu era quem não via luz há tempos. A arrumação era a mesma: alguns livros no chão, roupas em cima do cabideiro, abajur aceso e cheiro de café - acho que derramei da última vez que estive acordada. Não me lembro.
Do lado direito pro esquerdo - o seu lado - e os olhos se fecharam com a dor na cabeça provocada pelo café, certamente; tentei mais uma vez e lá estavam eles: a pulseira, o anel e o bilhete. Uma eternidade, e eu ali, esperando inutilmente que eles sumissem com minhas piscadelas. No entanto, permaneciam intactos e esperando por mim, assim como eu, por você.
Reconheci o seu cheiro, misturado à brisa que entrava pela janela. Vi seus passos traçando a rua; saindo da banca de jornal... comprando pão na padaria... sentado no café, tomando um expresso... e no nosso quarto! O chão molhado, você vestido num roupão branco, a cama repleta de papéis do banco e o meu corpo de pé, sorrindo com os olhos do coração.
Seu sorriso voltado pra porta do banheiro, agora - eu ria quando você dizia gostar do jeito que enxugo os cabelos. Toalha e roupão jogados entre lençóis, papéis importantes amassados e corações que só se faziam dizer.

- Promete que fica pra sempre?
- Prometo.
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Promessas feitas de papel, e um bilhete que dizia: "Eu prometo que te amo. Adeus"

Eu prometo que acredito, só não sei se te espero.

"Se nesta continuada confidência muito falei de amor, perdoai, senhores. Somente sei falar dos meus amores."

Por: Julya Tavares


As cartas que eu não mando

terça-feira, 4 de agosto de 2009
" - É, eu tava relendo as cartas dele. Não, eu não tava triste. Não, já disse. Se eu chorei? Um pouco, mas nada demais não, foram só as lembranças... Aquela nostagia, sabe? Tsc, ah, deixa, você não me entende nunca, tchau."
Desliguei o telefone e sentei novamente em frente à caixa de cartas, olhei aqueles papéis amontoados. Peguei um deles que terminava com "Amo-te, sempre.".
Ri, porque aquela não foi uma verdade na minha vida, foi apenas mais uma inconstância...
Se a carta era dele? Claro que não, eu tinha escrito e guardado ali.
Era o lugar de minhas memórias. Eram tão conturbadas que nem eu guardava, só aquela caixa poderia suportar.
De repente entrou um vento pela janela, e sabe aqueles ventinhos da felicidade?
Ah, senti-me muito melhor.
Larguei a caixa ali na mesinha mesmo, pedi à empregada que guardasse depois aquela tristeza, com uma máscara para não se contaminar.
Eu resolvi, por alguns breves momentos, apenas olhar pro mar que estava bem ali, em frente à minha janela. Cansei de pensar naquelas cartas que não mandei. Talvez escrevesse outras, talvez não, mas eu ia viver o dia e o que ele pudesse me dar.
O meu amor? Ah, dia desses, quando eu estiver andando pela praia... Quem sabe ele não vem me visitar?

"Eu vivo em carne viva, por isso tento dar pele grossa a meus personagens. Só que não aguento e faço-os chorar à toa." - Clarice Lispector

Por: Ana Carolina de Assis

Perfume e Saudade

sábado, 1 de agosto de 2009
Hoje, acordei nauseada. Não no sentido patológico, refiro-me à consciência mesmo. O tempo nem o clima estão como antes, e eu, como sempre, só percebi isso agora. Até o cheiro da minha cama mudou, acho que foi quando você foi embora. Mas, nem o que havia antes, o meu, está lá; se é que me lembro do que era e tinha antes de ter você.
Meio dia quando levantei, acordada desde às quatro. Foram vinte e três anos levantando ao som dos galos, e apenas sete meses para aprender a passar o dia deitada na cama, na nossa cama. Minha e sua.
Trinta e cinco chamadas no celular, cinco mensagens na secretária eletrônica, doze e-mails não lidos e uma caixa de correios a ponto de despencar, de tanta correspondência: inútil, nada era teu. Depois, descobri o porquê da minha náusea - e, dessa vez, falo de patologia - o cheiro estava por todo o apartamento, e devo dizer que ele não era nada bom. Estava forte demais, pensei que fosse desmaiar, até; não pelo cheiro - eu tinha adoração por aquilo - mas pelo vidro, deitado ao chão, por cima daquela nossa foto. Uma cena parecida com a que eu me recordava ter vivido há dois dias atrás: Eu, deitada e em cima daquela foto, como o vidro de perfume francês, o teu perfume.
Minha mãe costuma dizer que não é bom terminar um perfume quando se ama. " - Acabou o perfume, acabou o amor.", diz ela. Pois é, agora, eu acredito.

- E acredito mesmo. (:

Por: Julya Tavares