Lado A[na]

quinta-feira, 30 de abril de 2009
Iniciamente, comparável a todas as outras, porém mantinha uma peculiaridade que jamais seria percebida, se não estudada com bastante atenção e inteligência. Era de uma beleza intrigante, sensível e ao mesmo tempo rígida, como uma fortaleza inatingível e única, a qual o oceano e tudo que a rodeava dançava uma coreografia de reverência e admiração. Mas ela preservava-se seca, cálida, ávida.
Observá-la era irresistível e fascinante. Aquela parecia-me a mais bela e delicada flor que meus olhos tinham tocado, e o ser mais indecifrável também. Com todas aquelas pétalas detalhadamente desenhadas, assemelhava-se a uma pintura romântica que jamais seria reproduzida novamente. Seu tom era formado de misturas indefinidas e traziam consigo uma luminosidade intensa e fragmentada, como diamantes estilhaçados, lançados ao vento; palavras soltas, negligentes ao destino.
E de tanta beleza e encanto, fez-se sobressalente ao que tornou-se insuficiente. Era como a atriz principal de um espetáculo composto de diferentes personagens e uma única intérprete. Ela mostrou-me o caminho das rosas, ainda que os espinhos fizessem parte essencial delas; fez de si mesma um jardim intocável e solitário, onde convidou-me para ser parte si. Fez-se a contra-mão da minha estrada de mão única, a volta de um trajeto que eu não pretendia retornar, o outro pedaço do caminho que eu não queria percorrer. A metade de tudo que sou. A metade de mim.


Oh, metade adorada de mim... ♪

Julya Tavares

Três palavras

quarta-feira, 22 de abril de 2009
Ei, olhe mais de perto, será possível que a cegueira tenha te tomado?
Perdeste o entendimento do que é luz?
Ficaste analfabeto da linguagem do infinito?
Ao acaso não entendes mais o que dizem os olhos?
Eu não acredito!
Não é possível que logo tu tenhas esquecido!
Logo tu, que abriste meus olhos...
Tu, que me mostraste a outra face...
E agora? O que faço?
Deveria alertar-te...
Faltam-me os argumentos.
Queria gritar-te...
Faltam-me as forças.
Você está longe, quase não posso mais te ver...
Mesmo assim ainda sinto a tua força reverberando no ar.
Não posso esquecer.
Não devo desistir.
Espero, apenas.
Há algum tempo preciso falar-te, mas, pra este caso, três palavras são insuficientes...

Por: Ana Carolina de Assis

Liberdade

segunda-feira, 6 de abril de 2009
... E a minha essência tem incontáveis milênios.
Hoje mesmo voltei a ela e contemplei-a.
Lembrei que já existia antes do surgimento do Universo... Do que há de mais incrível, antes até do inimaginável...
A minha alma hoje, presa à limitada condição humana, olhou pras estrelas pra lembrar de quem deveras é.
Que ironia, essa... Teve que enxergá-las com estes olhos tão limitados...
Mas conseguiu assim mesmo captar e absorver toda a imensidão...
Que dádiva concedida a uma humana como eu: sentir o peso dos planetas, o brilho das estrelas...
Ouvi o doce silêncio do vácuo, senti o doce perfume do céu negro, vi a infindável luz que emana de pontinhos longíquos...
Hoje, senti-me pequena diante da grandeza desta essência, mas estranhamente, esta pequenez me libertou e me encheu de suave alegria... Tênue, branda, constante...
Ao perder-me no que é inexplicável, achei minhas respostas.
E agora eis que sou livre.

Por:Ana Carolina de Assis