Observar desconhecidos

sábado, 23 de agosto de 2008
Ele tinha uma vida, mas quem se importava com isto?
Um dia, tivera mulher, filhos, toda a felicidade que alguém poderia desejar.
Mas agora ele não tinha nada.
Cansado do mundo; só, em meio a esmagadoras multidões.
Ele observava-os. Gostava disto. Não tinham nome, nem rostos definidos. Pareciam tão confiantes, tão alegres, tão cheios de si... Mal sabiam eles - Pensou com amargor. Mal sabiam que a cruel vida podia dar e tirar com tanta facilidade. Mal sabiam que um caminhão numa curva e uma batida podiam acabar com a vida de um homem. Mal sabiam os pobres alienados - Riu-se ele enquanto, mais uma vez, acabava com uma garrafa de uísque barato, sentado na sua tão habitual cadeira de bar.
Já era noite, muitas daquelas criaturinhas voltavam para casa, de suas labutas. Ele entrou num ônibus qualquer,sem destino algum, cabaleante e com um ar fétido de suor e álcool. Todos torceram o nariz... Coitadinhos. Sentou-se no último banco, no canto, e mergulhou num sono profundo. Foi para o único lugar onde a amargura era menor, onde ele podia entregar-se à doce utopia, onde sua família estava: nos sonhos.
Então a Ana entrou no ônibus, pensando no seu vestibular pela frente. Acomodou-se ao seu lado. Devaneando como sempre, nem notou a sua presença. Mas então ela o viu, quase chorou. Ele babava muito e fedia. Ela sentiu os olhos arderem de compaixão por aquele homem em estado deplorável. Queria acordá-lo, ajudá-lo de qualquer forma possível. Mas ela havia chegado ao seu destino. Ao contrário dele, ela tinha um. Conformou-se, assim, em não poder salvar o mundo. Foi para a sua cama bem quente, afinal, a Ana tinha mais o que fazer além de observar desconhecidos.

Por: Ana Carolina de Assis.

P.S.: Baseado no meu tão imprevisível cotidiano.

2 comentários:

Lucas L. Rocha disse...

Caramba, bela criatividade, hein? Usar-se como personagem de um conto da vida real ficou bem legal, e gostei do ponto de vista do bêbado e da irrelevância que isso tem em nossas vidas, mesmo que em alguns momentos queiramos que tenha relevância.

Anônimo disse...

eh pelo menos esse cara ai não morreu neh ?!
xD