Eu não sei rimar
De sonhos, visões, dores e amor
E pelo prazer do lápis no papel aqui
Estas singelas intimidades quis eu expor
Mas chega um sujeito e diz: "Como pode?
Esta louca criança
Pretender escrever assim, sem molde?"
Então me irritei e gritei: Moço!
Minhas palavras são minha alma pura.
E te agarro pelo pescoço
Se não as chamares literatura.
Por: Ana Carolina de Assis.
P.S.: Para alguém que me inspirou especialmente hoje. =)
Ser de Si
“- Oi. É... eu só queria saber se já chegou
É estranho sentir o cheiro de outra pessoa no seu próprio corpo, ainda mais quando esse cheiro se embrenha pelos cabelos, roupa e casa. É pior ainda quando o vento bate. Eu sou bastante egoísta com essas coisas – ou egocêntrica, se preferir. Gosto do meu cheiro nas minhas coisas, talvez seja porque o meu cheiro não me lembra ninguém, e aí eu digo que não sou apenas egoísta, sou solitária – acho que assim são chamadas as pessoas que gostam de sua própria companhia. A bem da verdade, não gosto de pensar em ninguém dentro de mim ou me conhecendo demais. Intimidade me assusta e é gostoso ser melhor amigo de si mesmo. Talvez eu seja apenas uma criança que tem medo de se trocar na frente da mãe; alguém que não consegue pensar em ser apenas um ao lado de um outro. Ou mais do que isso, um ser que se esconde do reflexo que vê a frente do espelho: tão grande que não cabe – ou só cabe – em si, e ao mesmo tempo tão frágil e quebrável, a ponto de poder, sequer, ser tocada.
É bom quando está aqui. Eu me sinto metade. Inteira. Ainda que me sinta ameaçada quando me olha querendo procurar algo que até eu esqueci onde guardei. Eu gosto de vê-lo me cantando com as palavras, e é fascinante como escorrega nelas, ao passo que seus olhos fazem o mesmo com minhas pernas. Os meus, como numa distração, se desviam pro mesmo canto dos pensamentos, que eu diria serem desviados pra uma outra esfera que nunca é a real, pois vivo numa eterna peça de teatro, onde mudo de vilã pra mocinha num passe de palavras mágicas ditas no momento certo.
Um dia, ainda peço que me perdoe pela distância que fui e pelo tormento que sou; talvez eu mude de substantivo, quiçá amor ou lamentação. O que importa é que descobri que posso ser quem quiser, até mesmo um vidro de perfume com o cheiro que ele gosta de usar. Mas, por enquanto, sou apenas alguém a exalar uma infinita capacidade de ser e estar sempre sozinha. E só.
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“ – Ah... chegou, é? Se esqueceu algo aqui? Não... acho que nada importante...”
É, nada além do seu cheiro nas minhas coisas.
“Sou fera, sou bicho, sou anjo e sou mulher.
Sou minha mãe, minha filha, minha irmã, minha menina.
Mas, sou minha, só minha, e não de quem quiser (...)
Tua deusa, meu amor.“
Por: J. Tavares
Tua
Não de mim, é claro, já aceitei a minha condição de ser.
Temo a nudez que o falar causaria-me.
Demandaria esforços a criar novos panos de sorrisos a fim de cobrir-me.
Minhas vergonhas são justamente minhas verdades.
E, neste emaranhado entre o ideal, acima de mim, e o que dizem certo, permaneço aqui, calada.
Mas vou falar, que importa o que digam?
Aquele que contemplar e julgar impróprio não terá compreendido a essência das palavras.
E, além disto, falarei somente a ti.
E diante de ti, que temer?
Eis tudo: "Amo-te, sou tua... Mas é segredo."
"Minhas desequilibradas palavras são o luxo do meu silêncio." - Clarice Lispector
Por: Ana Carolina de Assis