A nega escritora

sexta-feira, 9 de outubro de 2009
A nega bonita acordou, perfumou-se das flores que tinha, pensou no seu amor e sentiu que todo verão em si detinha. Olhou na janela, que pena, chovia! Mas mesmo assim Madalena concedeu-se uma regalia. Botou seu vestido estampado, saiu em ritmo de samba. O vento nos cabelos cacheados, o puro amor de quem é bamba.Porém não sabia a pobre que seu amor, nada nobre, não lhe dava o valor. Meu Deus, pra que tamanho horror? O seu nego querido e cuidado, que tanto amor lhe jurava, estava ali sentado, com outra nega que o acarinhava.
Mas ela era mulher de fibra, ainda era colorida. E ia sobreviver. Foi pra casa escrever poesia, que importa a desvalia? Passou a amar as palavras, que a traiam mais sinceramente. E a sua dor passou a ser amada por aqueles que a liam.
Sentou-se e, só, escreveu:

Chove. Pés frios.
Meus olhos quentes
Não há estio
E tudo mente.

Verde escuro
Vestido molhado
Como seguro
Este enfado?

Sou forte ou fraco?
E isto importa?
Mergulho no vácuo

Mas ainda teimo,
Teimo em não temer

O meu grande problema
É que você nunca foi eu
E eu ainda sou você


- Porque, rimada, até a mais profunda dor parece bela...-

Por: Ana Carolina de Assis

8 comentários:

Rogério D Lima disse...

Maninha, você detonou agora!Acho que um dos seus melhores posts, minha opnião.

Muito bom mesmo!Beijos e tenha um ótimo final de semana e como é bom te vê inspirara.Obrigado.Tchau!

Ana Luísa Guimarães disse...

O que foi esse finaaal Anaaaaa? :~~~
Vou roubar as palavras do rapaz acima: você detonou! hahaha

:***

Renato Junqueira disse...

:o ...
Na morales...PAREI contigo heim, ANA! Perfeeeeeeeito, me lembrou deMAIS aquela mulata de O Cortiço que era da Bahia eu acho e que os homens brigavam por ela e tal lembra? O malandro e o português se esfaqueando por ela...lembra? E esse post você não avisa no meu orkut né, safada?! Tudo bem que eu sempre leio o post antes de ver o scrap, já que o seu blog está no meu caminho compulsivo virtual que sempre faço antes de entrar no orkut, mas pô, esse MERECE um aviso, então avise depois só por esporte que eu fico feliz hahhahaha! Parabéns, bj!

cabelos de fogo disse...

"Mas ela era mulher de fibra, ainda era colorida. E ia sobreviver"

Sou mulher de fibra, e prefiro realmente amar minhas palavras, é uma traição mais doce de aguentar, por mais que seja verdadeira!

MARA

Lucas L. Rocha disse...

arrebentou e arrebatou-me :) gostei muito, ana, sério mesmo... quando vamos juntar essas crônicas em "Fragmentos de Cartas - o Livro", hein?

Marcel Albuquerque disse...

Talvez eu que tenha virado um leitor melhor - ou, quem sabe, meus olhos, neste momento, são/estão mais adequados ao tema -, mas devo dizer que foi o texto teu que mais gostei, sem dúvida!

Curioso q'eu li outro dia e não havia captado a dimensão dele...

E que a inspiração não seja sempre de dor: que se confundam realidade e possibilidades dela.

Beeeijo, Carol!

Matheus de Castro Macêdo disse...

E é por leituras assim que eu não desisto desse mundo de expor as idéias em páginas da internet!
PARABENS!
Tocante, profundo...
Muito bem explorado o "sentir" de Madalena!
PALMAS!

Jessy Pozzi disse...

"Chove. Pés frios.
Meus olhos quentes
Não há estio
E tudo mente.

Verde escuro
Vestido molhado
Como seguro
Este enfado?

Sou forte ou fraco?
E isto importa?
Mergulho no vácuo

Mas ainda teimo,
Teimo em não temer

O meu grande problema
É que você nunca foi eu
E eu ainda sou você"

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